quinta-feira, 6 de março de 2008

El Misti

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Conto agora a aventura (ou desventura) de conquista do El Misti, o vulcao que vigia Arequipa.

Cedo da manha de quinta passada me pegaram no hotel para o inicio da ascensao ao Misti. Estava eu, o guia (Adriano), um italiano (o Zeno) e um alemao (o Martin). Seguimos de carro ate um bom pedaco na entrada da Reserva Nacional Salinas e Aguada Blanca, isso a 3400m.


A entrada do parque onde mora o Misti

Baks, Zeno e Martin. Os andinistas

Ali comecou a caminhada. Era umas 11h da manha e checamos o nosso equipamento: barraca, macete, corda, saco de dormir, roupa para o frio, luvas, lanternas, agua, comida.... O inicio foi animador, apesar de cada um carregar uma mochila com uns 30kg nas costas. Pensar que em breve estariamos no cume de um vulcao a 5.900m de altitude fazia esquecer qualquer pesinho. Mas foi so o inicio.

Quando de fato chegamos a base do vulcao, a coisa comecou a piorar. Caminhamos uma hora sem parar, sempre subindo. Quando paramos perguntei ao Adriano, o guia peruano, quanto haviamos subido, ele respondeu 90m! Puxa, caminhar uma hora subindo, andando quase como tartaruga, subindo pedras, atolando o pe na areia fina com 30kg nas costas e subir 90m..... faltava ainda 2.400m.

Depois de 4h mais, la pelas 4h da tarde, chegamos ao acampamento baixo, onde iriamos passar a noite. Estavamos exaustos e a 4300m. Iriamos deixar os 1600m para o outro dia, mais 8h de subida. Dai tomamos uma decisao. Como chegamos relativamente cedo ao acampamento baixo, optamos por acampar no acampamento alto, a mais 500m acima, para diminuir o tempo e esforco de escalada no outro dia. Porem tinha dois caminhos a seguir: o normal, mais duas horas, e o mais peligroso, escalando, mas que chegariamos em uma hora. Tivemos que descartar o primeiro porque chegariamos a noite no acampamento, o que ficaria ruim para armas as barracas e jantar. Fomos pelo paredao, ate porque o Zeno tinha alguma experiencia subindo umas montanhas nos alpes italianos.

Seguindo sem parar subida acima. Saca a neblina gelada

Seguimos bem devagar pelo paredao. O Adriano foi na frente para fixar os pinos e as cordas. Seguimos depois. Minha primeira escalada vertical. Muito legal. Nao ha tanto perigo assim, o negocio e confiar que tudo ta bem fixado e subir bem devagar, com cuidado. Cair la embaixo e dificil pois voce ta amarrado nas cordas. Se escorregar, pode se machucar porque voce bate nas rochas. Mas seguimos normal. Chegamos ao acampamento alto exatamente uma hora depois.

Armamos as barracas. O Adriano foi fazer o jantar. Sopa e macarrao. Tava bom. Alias, qualquer coisa estaria bom depois de 5h de subida. Meus pes estavam me matando pois nao tinha botas e tive que alugar uma, que nao me caiu legal. Fomos dormir era umas 19h. Escurece la pelas 18h aqui. No outro dia iamos acordar a 1h da manha e sair a 1h30min, de noitao mesmo, para chegar ao cume la pelas 8h da manha.

As luzes la embaixo é a cidade de Arequipa

Nao consegui dormir nada. O frio era muito. Botei tudo o que eu tinha de roupa mas sentia muito frio ainda. Estava morto de cansado e com bolhas nos pes. O Adriano acordou o pessoal na hora. Dai tomei uma decisao. Guivupei. Desisti. OK, Misti, voce venceu. Nao conseguia segurar o macete nas maos (apesar das luvas) de tanto frio. Meus dedos estavam congelando e sabia que ia piorar ao amanhecer, ainda mais la em cima. Fiquei no acampamento. O pessoal foi. Voltaram la pelas 10h. Acabados.

Desfazemos o acampamento e comecamos a descer, desta vez pela areia, por isso foi bem rapido. Em 2h estavamos la embaixo. Meus pes em carne viva por causa das malditas botas. No final, tirei elas e fiquei so de meias. Deveria ter ido com meus tenis mesmo. O carro passou la pra pegar a gente.

Iniciando o caminho de volta

Chegamos em Arequipa era umas 17h da tarde. Cansado, tomei um banho e fui direto dormir. No outro ia explorar a "cidade branca". Pois é, nao foi dessa vez. Meu recorde continua o Chacaltaya, com 5.400m. Perdi para o Misti, o frio e as botas. Mas ele ta no meu caderninho, esse safado. Um dia eu volto, com mais roupas e botas descentes e ele vai ver so. Chego la, nem que seja me arrastando.

O Misti. Nao foi dessa vez mas um dia voce sera meu

Os Incas

Parte 1: As Invasoes Barbaras

Capítulo 4: A Expansao do Império

A formacao do maior Império da América do Sul pre-colombiana foi sobretudo, forjada a forca. O sucesso do poder militar dos incas foi sua disciplina: um exercito de guerreiros bem treinados. Inicialmente, o Inka, o chefao supremo, enviava falso mercadoress, que eram na verdade espioes, encarregados de avaliar a capacidade militar do inimigo. Depois chegavam os embaixadores, que propunham aos governantes locais que se submetessem. No caso de recusa, a guerra era declarada, porem sempre que possivel, obtinha-se a rendicao negociada. Esse "metodo" forcado de aculturamento e dominacao aliado ao pouco tempo de formacao do imperio (com magoas e vaidades expostas) foi o fator determinante para a sua ruina.

Os povos que aceitavam a hegemonia inca eram poupados, integrados ao Império e se beneficiavam do conhecimento cientifico e administrativo os incas. Arcavam porem, com tributos e eram obrigados a seguir as leis e religiao incaicas, como participar da mita. Tambem eram obrigados a aprender o quechua, o idioma oficialdo do Império, apesar de que podiam manter a sua lingua original. O antigo rei era mantido no posto e seus filhos enviados a Cusco para aprender o quechua e assimilar a cultura. Parte da populacao era transferida para outras partes de forma a ser mais facilmente controlada e aculturada, da mesma forma que militares-agricultores incas se estabeleciam nos terrenos dominados para "quechuizar" a populacao.

Porem, com os povos que nao aceitavam a dominacao, os incas eram cruéis. Taxavam a populacao com altos impostos e obrigavam a migracoes forcadas. O Inka ingressava na cidade em sua liteira, cujos carregadores pisavam sobre os guerreiros derrotados. O rei vencido era exibido nu. Quando a resistencia era feroz, os guerreiros vencidos eram escravizados e os chefes mortos e empalhados, para exibicao no desfile triunfal, como um trofeu de guerra.

O Império Inca comecou aproximadamente no ano de 1200, tendo seu auge entre os anos 1460 e 1530. Nesse periodo, o império era formado por 12 milhoes de pessoas, em uma extensao que ia do sul do Equador ate o norte da Argentina. Pouco a pouco os incas foram dominando os povos vizinhos. O ultimo grande imperio dominado foi o Chimu, no norte do Peru. Foi no perido do Imperador Inka Pachacuti (1438-1471) que o imperio incaica se consolidou, com a vitoria sobre os Chimus. Era mais ou menos um Brasil e uma Argentina, que comercializavam entre si e viviam em paz. Dai o Brasil resolveu invadir a Argentina, que no inicio se rebelou mas nao conseguiu suportar a pressao. Entao o Brasil fez com que toda a Argentina aprendesse o portugues, trocasse o tango pelo samba e enfim, aprendesse a jogar futebol.

Como o Império Inca era recente, comecou um crise a partir de 1527, quando morre o Inka Hayna Capac. O Inka tinha uma centena de filhos com concubinas e esposas. Uma de suas concubinas, a filha do rei de Quito, que aceitou se submeter ao Inka, era mae de Atahualpa, filho ilegitimo mas particularmente querido de Capac. A sucessao do trono deveria caber a Huascar, que vivia em Cusco era filho do Inka com sua esposa principal. Quando ia morrer, Capac chamou Huascar e disse que deixasse para Atahualpa a parte norte do Império (a regiao de Quito), no que foi atendido. Porem, poucos anos depois, Huascar se sentiu acuado e obrigou Atahualpa a declarar publicamente vassalagem e que renunciava a expansao norte do Império, ou seja, queria "cortas as asas" do Atahualpa. Huascar ordenou que Atahualpa fosse a Cusco levando a múmia de seu pai. Atahualpa mandou a múmia mas nao deu as caras. Huascar considerou um desrespeito e matou todos da comitiva de Atahualpa. Entao Atahualpa, maroto, disse que aceitava ir a Cusco prestar vassalagem ao irmao. Faria mais: iria acompanhado de milhares de seus suditos, que tambem declarariam fidelidade ao Inka.

Saiu de Quito uma enorme comitiva formada por soldados quitenhos sem a menor intencao de se submeter a Huascar. Este, a principio nao desconfiara de nada, mas avisado pelos governadores das provincias, armou sua defesa, mas seus guerrreiros estavam espalhados pelo Imperio e Huascar acabou prisioneiro. Com medo de nao ser aceito Inka pela sua condicao de bastardo, Atahualpa fez uma limpeza etnica na corte, matando todas as mulheres e filhos de Huascar.

Mais ou menos nessa época, nesse contexto de guerra civil, é que Atahualpa foi informado que estranhos homens barbudos em grandes naus passeavam pela costa... a rivalidade entre dois irmaos, o genio forte e ganancia de ambos seriam decisivos para o fim do imperio incaico.

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