segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

O Salar de Uyuni

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Ola pessoal. Voltamos com o blog após alguns contratempos tecnológicos.

Bueno. Atrasado que estou, vamos fazer como o esquartejador, vamos por partes. Ja estou fisicamente no Peru, mas contando historias bolivianas.

Atualizei com fotos o post anterior, que faltava. Em Uyuni a velocidade da internet nao permite uploads.

Cheguei em Uyuni lá pelas 2h da manha, vindo de Potosi. O trajeto Uyuni-Potosi foi terrivel porque pior que uma estrada de terra boliviana é uma estrada de terra boliviana em preparacao para asfalto. Procurei um pequeno hostel e fui dormir (30 bs). Uyuni, antes uma cidade com um importante entroncamento ferroviario, seria uma daquelas cidades-fantasma nao fosse porta de entrada para um dos maiores espetaculos desse planeta, o Salar de Uyuni.

Comprei o tour de 3 dias pelo Salar em La Paz. Me mandaram encontrar a agencia Sandra Travels em Uyuni. Cheguei na hora marcada (10h) para o inicio do passeio. Esperei ate as 12h para sair. Uma super desorganizacao. Fui eu e mais dois argentinos para o Salar, no primeiro dia. O Salar é uma imensa porcao de sal, antes um grande lago que ia desde o Titicaca, mas aos poucos foi evaporando. Sob uma camada de 20m de sal há agua. Mas a camada de sal é suficiente para aguentar onibus e caminhoes. Neste periodo, por causa das chuvas, ha uma pelicula de uns 20 cm de agua sobre o salar. Por esse motivo os carros tem que andar devagar e nao se pode chegar a Isla del Pescado, que, no meio do Salar parece uma ilha mesmo. No entanto, o horizonte se confunde com o ceu por causa da agua. Impossivel ficar sem oculos escuros e protetor solar. O branco do sal reflete a luz do sol.

Em Colchani, o pessoal extrai sal para consumo interno da Bolivia. O Gobierno proibe a exploraco em massa para preservar o local

A imensidao de sal do salar

Fomos a cidadezinha de Colchani onde almocamos e entramos no Salar. No trajeto, ja dentro do Salar estao sendo construidos dois grandiosos hoteis de sal. Isso porque onde estavamos indo, o Hotel de Sal esta fazendo muito sucesso, apesar de bem mucufa. A diaria custa 25 dolares, mas nao vale a pena. Tudo la dentro é feito de sal, camas, cadeiras, mesas. Se o almoco nao esta bom, basta tirar um pouco da mesa e por na comida.

O hotel todo feito de sal

Ta meio surrada mas é nóis na fita. Na frente do hotel

Tudo é cloreto de sódio no hotel de sal

Apos um tempo no Hotel voltamos para Uyuni, onde eu ia esperar o novo grupo para seguir ate Villa Allota, em direcao ao sul da Bolivia. Antes, passamos no Cemeterio de Trenes, onde despejam carcacas de trens sem uso. Chegado o transporte, conheci o novo grupo, um argentino e quatro irlandeses. Comecamos a viagem ate Allota. No meio do trajeto, fura um pneu. Tudo bem, nada de mais, é comum em estradas assim, so de pedras. Mas o pior ainda estava por vir.

Nao é o trem-bala mas é um trem inteligente

Comecou uma chuva danada e a estrada virou um barril. Puro barro. Comecava a escurecer. Vi que o motora estava ja com dificuldades de enxergar, ele estava com oculos escuros. ¨Saca las lentes", lhe disse. Ele tirou. Passou um tempo e perguntei porque nao ligava os farois. Resposta: "No hay luces". Incrivel. Viajamos na completa escuridao a uns 5 km por hora em uma estrada completamente embarrada.

Chegamos saos e salvos em Allota, porem o pessoal se rebelou e disse que so continuaria viagem se trouxessem outro carro e outro motorista, ja que haviamos pedido para ele parar e seguirmos a pe e ele nao obedeceu. No outro dia, ligamos para a agencia e nos enviaram outro motora e outro carro. Primeira coisa que fizemos foi testar as luzes. O argentino pegou nojo da cousa e voltou para Uyuni. Seguimos eu e os irlandeses. Allota parece uma cidadezinha de faroeste. Um nada no meio do nada.

O desolado vilarejo de Villa Allota. O carro branco nao tem farois. O vermelho trouxeram depois

Como eles nao falavam nada de espanhol e o motora-guia nao falava ingles, chamei no english para os irishs. Foram dois dias de completa absorcao em ingles. Beleza. O passeio continuou passando por paisagens incriveis, formacoes rochosas estranhas, lagunas altiplanicas de extremas beleza. Passamos pela Arbol de Piedra, uma formacao estranha que um vulcao perto cuspiu a 4000 anos. Passamos por algumas lagunas e chegamos a tarde a Laguna Colorada, onde ficava nosso refugio para passar a noite.

A árvore de pedra

A Laguna Colorada é da cor vermelho e branca por causa da presenca de bórax e algas. Estava filmando a laguna quando vi uma manada de lhamas vindo em minha direcao, foi muito engracado. La no refugio se encontrava todas 4 x 4. A noite, foi uma das mais divertidas ate agora, ficamos conversando eu (unico brasileiro), argentinos, chilenos, irlandeses, belgas, galeses, franceses, italianos e alemaes. Uma sopa de letrinhas e idiomas. Combinamos ate de bater uma bola mas o vento estava tao forte que teriamos que buscar no Chile. Saimos na rua, um frio de ranguear cusco pra ver o eclipse da lua depois. Dae fui dormir pues, quem vai para Uyuni sai as 10h, e quem vai para o Chile sai as 4h. Tinhamos que acordar cedo no outro dia para ver o Planeta Terra soltar pum.

A Laguna Colorada tem esse nome em homenagem ao Sport Club Internacional, campeao da América e do Mundo em 2006

Uma lhama enfeitada na laguna. O carnaval ja passou dona lhama

Os geiseres sao um fenomeno muito bonito de se ver, principalmente quando se esta amanhecendo. Cheira a enxofre e a temperatura varia muito entre cada buraco, desde o suportavel para por a mao ate os mais de 100 grados. Depois dos geireses chegamos a uma pequena piscina de agua termal onde se pode tomar banho. La dentro, agua quentinha a 35 graus. La fora, o termometro marcava 1 negativo. Nao me arrisquei. Me arrependi depois. É que tinha que tirar calcao de banho e toalha que estava na mochila em cima do carro e uma das irlandesas tava chata que nem saia do carro. Dai seguimos viagem. Uma galera ficou tomando banho la.

Os peidos do Planeta Terra. Esses estavam fracos, outros saiam a pressoes incriveis.
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Passamos pela Laguna Blanca e a impressionate laguna Verde aos pes do Vulcao Licancabur. Infelizmente era muito cedo e a neblina encobria a paisagem. Chegamos ao refugio da empresa e acabou-se o passeio de tres dias. Fomos a fronteira e pegamos tranporte ate San Pedro de Atacama, ja no Chile. Mas isso eu conto dispois.


O Vulcao Licancabur


Na frontera com o Chile. Adios Bolivia
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Algumas coisas interessantes sobre o espanhol, que estou aprendendo aqui. Vaso em espanhol significado copo. O que seria o nosso "vaso" quer dizer taca (com cedilha). Entao, se voce chegar chegar num restaurante e pedir uma taca vao te indicar o banheiro. E se voce estiver apertado e perguntar onde ha um vaso, vao lhe trazer um copo. Cousas da nossa lingua hermana.
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Os Últimos Dias de Butch Cassidy e Sundance Kid
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Parece filme de Holywood... e foi mesmo, com Robert Redford e outro cara que nao me lembro, isso em 1962. Mas a história é real. A Bolívia é pródiga em matar foragidos. Assim foi com Che Guevara. No incio do seculo, os dois mais procurados bandidos norte-americanos, estavam com cartazes "wanted" pendurados em quase todas as cidades dos EUA. Resolveram se mandar e foram para a Bolivia trabalhar na mineracao de estanho. Conseguiram emprego como ordenadores de despesa, olha só. Nao demorou muito para roubarem o pagamento dos mineiros, 90 mil dolares na epoca, um absurdo de dinheiro. Seguiram para um vilarejo perto de Uyuni, onde foram encurralados e, apos um tiroteio, mortos por policiais bolivianos. Mas uma das coisas que so acontecem na Bolivia.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

La Plata de Potosí

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Potosí talvez é o lugar mais fascinante e trágico de toda a Bolívia.

Foi daqui, na montanha de Cerro Rico, que se extraiu a prata que financiou a Revoluçao Industrial na Europa.

Tudo começou em 1545 quando um pastor de lhamas perdeu a hora de voltar para casa e acampou nas encostas da montanha. Quando escureceu, ele acendeu uma fogueira para se aquecer e viu o brilho dos veios de prata realçados pelas chamas. A noticia nao demorou a chegar aos espanhóis, sedentos por riqueza e, nos proximos vinte anos Potosí se tornou a maior fornecedora de prata do mundo. No século XVI, Potosí era uma maiores metrópoles do mundo, com populaçao superior a Londres e Madrid, em torno de 160 mil habitantes. A cada dia a prata fazia brotar igrejas, casas imensas, bordéis, saloes de bailes, engenhos e teatros. Menina dos olhos da Coroa Espanhola, foi a única cidade das Américas a receber o título de "cidade imperial".


As pitorescas ruas colonias da cidade de Potosí

No entanto, mais de 7 milhoes de pessoas morreram no Cerro Rico, nos mais de 400 anos de exploracao da montanha, em funcao das condicoes insalubres de trabalho. Os primeiros mineiros, escravos, eram obrigados a trabalhar mais de 12h por dia no subsolo. Nem viam a luz do sol.

Depois da segunda metade do seculo 17, a producao caiu, a prata perdeu valor comercial, reduzindo a populacao da cidade para 9 mil habitantes em 1825. Mais tarde, a cidade teve um novo impulso com a exploracao do estanho, mas nunca retomou o explendor e riqueza dos anos da prata. Miguel de Cervantes, no clássico Don Quixote, cunhou a expressao "Vale um Potosí", para indicar algo muito valioso.

Por toda a heranca colonial, importancia histórica e pelo legado arquitetonico, Potosi foi declarada Patrimonio da Humanidade pela UNESCO em 1987. Hoje, a cidade conta com 160 mil habitantes e sua principal atividade economica continua sendo a mineracao, extraindo o que ainda se pode do famoso, glorioso e trágico Cerro Rico.


Este é o Cerro Rico, a montanha de prata responsável pela glória e riqueza e morte e desgraca de Potosi.

Cheguei em Potosi na sexta, como estava cansado da viagem resolvi dormir e só a tarde fui dar uma banda na cidade, comprar uns passeios e fui visitar a primeira igreja, a de San Francisco, de 1550. Dá pra subir no telhado e ter uma vista espetacular da cidade. É uma daquelas construcoes imponentes de Potosí. Aliás, igreja é o que nao falta na cidade, umas 30, todas com mais de 250 anos. A quantidade de quadros, esculturas é impressionante. Abaixo da igreja, da pra visitar as catacumbas, onde se depositam os corpos dos padres mortos e alguns figuroes da cidade.


Vista da cidade de cima da Igreja san Francisco

À noite, dei uma volta pela cidade, mas nao tinha nada interessante. Fui dormir porque o sabado seria puxado. Ia adentrar o Cerro Rico.

Quando estava fazendo o doc "Ouro Negro" por duas vezes desci a Mina de Carvao Leao I em Minas do Leao, que nao estava mais em atividade mas ainda em manutencao. A mina é bem feita, com escoras, sistema de ventilacao, iluminacao, pouco perigo. Agora, o Cerro Rico é uma mina de 400 anos. Logo no inicio o grupo recebe uma roupa protetora, lanternas e se dirige ao Mercado Mineiro, onde podemos comprar alguns "regalos" aos mineiros. Vale lembrar que a mina esta em plena atividade e os mineiros que trabalhama lá nao gostam de ser "atracao turistica". Aquilo é o trabalho e a vida deles. Alias, vida que nao ultrapassa os 45 anos.

Bueno. Compramos refrigerante, folhas de coca e bananas de dinamite. Fomos ao Cerro Rico. De todas as aventuras e passeios que fiz ate agora, todos, absolutamente todos eu faria de novo, mesmo o passeio de bike em que me quebrei. Agora, voltar ao Cerro Rico nunca mais.


Essa é a entrada da mina. Dá pra se ter uma base de como é lá dentro
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A mina nao foi construida. É apenas um buraco feito a mao. Em alguns momentos tem que se abaixar com o peito no chao para passar, por distancias de ate 20m. Voce se transforma num legitimo tatu. A unica iluminacao é a do seu capacete. Para pessoas claustrofobicas, nem chegue perto. O meu problema foi respirar. Voce esta a 4060m, nao ha circulacao de ar, e o que tem é extramente poluido com pó e particulas de minerais. A minha vontade quando entrei, foi a de sair dali o mais rapido possivel. Incrivel como pessoas podem trabalhar naquele ambiente. Na entrada da mina ha um pequeno museu, com a figura de El Tio.


Baks pede a protecao do El Tio
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Os primeiros mineiros foram os indigenas. Catequizados pelos padres catolicos espanhois, que diziam que deus esta no ceu e o diabo embaixo da terra, logo pensavam que as entranhas do Cerro Rico era o proprio inferno (nao deixa de ser mesmo) e comandado pelo diabo. Para trabalhar la, necessitariam da permissao do senhor das trevas. Criaram entao a figura do El Tio, o ser dono das profundezas e faziam oferendas pedindo permissao para trabalhar la e rogando para que nada de ruim acontecesse durante o trabalho. A tradicao persiste ate hoje. El Tio nao houviu muitas das preces.


Virei tatu. Olha os buracos que tinhamos que entrar


Mineiros trabalhando no subsolo. Peguei uma pa tambem e fui ajudar


Entrei aí para descer ate o quarto pavimento. O brabo foi subir depois

Na rua, ja na luz do sol, resolvemos explodir umas dinamites so pra ver o estouro.


Baks la fora. Ligaram-se que todas as fotos estou com o polegar pra cima. Essa nao. Depois disso fomos explodir dinamites. Unabomber-baks.

Fui para o hotel tomar banho, voce fica completamente sujo e à tarde, fui visitar a incrivel Casa de La Moneda, uma enorme construcao no centro da cidade cuja funcao principal foi cunhar moedas de prata para toda a Europa. Hoje um museu, a Casa da Moeda conta com 200 salas. Visitamos toda o procedimento para beneficiar a prata e sua cunhagem, ora em moedas, ora em lingotes que eram enviados à Espanha. Por ironia do destino, as moedas bolivianas hoje sao produzidas na Espanha...


A entrada do impressionante Museo Casa de La Moneda

Depois fui visitar o Museu e Convento de Santa Tereza, uma grande construcao destinada a enclausurar meninas para passar a vida toda adorando deus e rezando. Era uma honra para as ricas familias tradicionais dos séculos XVI e XVII terem uma familia no convento. O dote para entrar, em valores de hoje, chegava a 100 mil dolares. Depois que a menina passava a porta de entrada, nunca mais poderia voltar, e nem ter contato nenhum com o meio externo. Quando se produzia algo para vender ou se necessitava de alguma coisa, as trocas eram feitas por rodas, onde nao se podia ver ninguem. Como o convento era extramamente rico, a quantidade de obras como esculturas e pinturas, todas com temas religiosos, é claro, é imensa. Cousas da nefasta igreja catolica.

No domingo e segunda fui visitar outras igrejas e monumentos e apreciar a gastronomia boliviana. Comi as famosas saltenas, uma especie de pastel de forno, recheado com carne ou pollo e bastante temperado. Alias tempero aqui nao é brincadeira. Num restaurante tinha tambem comida mexicana. Tá louco. Se as bolivianas sao assim, imagine as mexicanas-bolivianas. Comi tambem a trucha, um peixe que da aqui no Lago Poopó.


A fachada de uma das várias iglesias de Potosi. Todas de mil quinhentos e poucos

Na segunda, fui para Uyuni, onde estou agora. Daqui a pouco, vou fazer um passeio de 4 dias pelo Salar de Uyuni, ate chegar no Chile, em San Pedro de Atacama.

Bueno. Adios Bolivia, hola Chile.

Volto com certeza para ca. Nao deu pra ver nem 30 % das cousas. O lugar é fascinante, e o que é bom, extremamente barato.

Nos vemos em San Pedro, no deserto de Atacama, onde nao chove desde 1952.

Da série filmes que voce nao pode deixar de baixar para o seu PC

O Fabuloso Destino de Amélie Poulain. (Le Fabuleux Destin d’Amélie Poulain, França, 2001), de Jean-Pierre Jeunet. Amélie é uma jovem que se muda para Paris. No novo apartamento, descobre uma caixa com objetos antigos e decide devolver ao seu dono. Ao ver a felicidade estampada no rosto dele, Amélie, a partir de pequenos gestos, passa a ajudar as pessoas que a rodeiam. Um filme com roteiro e direção fantásticos, além da fotografia surpreendente, explorando cores chamativas, dando um ar de desenho animado. Muito divertido, a parte em que Amélie tenta demonstrar seu amor para seu pretendente é hilariante. Vale a pena entrar no mundo fantástico e doce de Amélie, assisti-lo vai deixar você mais leve. Não é só o destino de Amélie Poulain que é fabuloso. O filme também.

Confira aqui: http://www.youtube.com/watch?v=d58JNRfUazQ

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Copacabana, a Princesinha do Lago

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Saí de La Paz na segunda à noite. Acabei demorando demais pra resolver umas cousas e só consegui pegar o "transporte" para Copacabana no final da tarde. Sabe aqueles ônibus que a gente vê em filme, com um bagageiro em cima onde o pessoal coloca de tudo um pouco? Pois é, tava num desses. A estrada entre La Paz e Copacabana é boa. O problema é o motora. Como a estrada é cheia de curvas, tinha que torcer para que nao viesse um outro carro em sentido contrário. O motora andava de um lado pra outro na estrada, pra fazer melhor as curvas.

Para chegar em Copacabana tem que atravessar o Lago Titicaca, no estreito de Tiquina. É estranho porque Copacabana é uma pedaço da Bolívia dentro do território peruano. É possível chegar lá somente por terra, mas daí tem que entrar no Peru. Entao, emoçoes mais fortes estavam por vir.
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Já era quase noite e um temporal estava se armando. O "transporte" pára nas margens do Titicaca, a galera desce e pega um bote até o outro lado, enquanto o "transporte" vai via balsa. Pois é, temporal chegando e nao é que o bote apaga no meio do lago. E ficamos dez minutos a deriva. Dos dois lados tudo preto e a chuvarada e vento chegando. Mas chegamos salvos do outro lado. Embarcamos no "transporte" e chegamos em Copa já a noite, após 4h de viagem.

Fui direto procurar um hotel. Achei uns amigos brasileiros que conheci em La Paz, mas o hotel deles já estava ocupado. Me quedei no Hostal Wara, a 40 bolivianos. No outro dia cedo, ia tomar o bote até a Isla del Sol.

Copacabana é uma cidadezinha de 8 mil habitantes. É o centro religiosos da Bolívia. Lá tem uma imensa catedral dedicada à Virgem de Copacabana. Nas festas religiososas a cidade ferve. Copacabana tem esse nome porque..... porque sim. A outra Copacabana, a do Rio é que tem o nome em homenagem à Copacabana boliviana. Diz a lenda que pescadores peruanos, passando por uma tormenta na costa do Rio pediram socorro à Virgem de Copacabana. Como o nome pegou acredito que eles se salvaram.

E tem muito gringo em Copa. Todo mundo querendo ir conhecer a Isla del Sol e a Isla de la Luna, os centros religiosos sagrados pré-colombianos. A cidadezinha é puro hotel, albergue, hostal e restaurante. Opçoes para todos os bolsos e gostos.

Bueno. Cedo peguei o bote até a Isla del Sol. Deixei o grosso de minha bagagem no hotel e fui so com o necessario. 2h de viagem navegando pelo Titicaca, a 15 bs. Optei por desembarcar na parte norte, na localidade de Challapampa. Lá é onde ficam os lugares sagrados dos tihuanacu e dos incas. Os primeiros a ocupar a ilha e transforma-la em lugar sagrado foram os tihuanacotas, até sua desintegraçao, em 1100. Depois foram os incas, vindos do norte, isso já em 1300. Portanto, é necessario identificar as diferencas entre as duas culturas, do que é milenar, a Tihuanacu e do que é mais recente, a incaica.

Encontrei outros amigos brasileiros lá. Aqueles que encontrei no Chacaltaya e fomos explorar a parte norte da ilha. Com a ajuda de um guia, caminhamos 45min até a primeira atraçao: uma pedra onde os tihuanacos aplicavam a pena de morte aos que desrespeitavam as leis. A cultura tihuanacota tinha tres mandamentos, todos eles punidos com a pena de morte: 1 - Nao roubar; 2 - Nao mentir, 3 - Nao ser preguiçoso. Na pedra é possivel ver as marcas, na altura do peito de cordas onde os desafortunados eram amarrados e depois degolados.
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Se as leis incas valessem até hoje os baianos seriam dizimados

Seguindo mais adiante, chegamos até a Roca Sagrada, a pedra sagrada dos tihuanacotas e dos incas. Em frente a pedra, um altar cerimonial para oferendas e sacrifícios. Os tihuanacotas sacrificavam lhamas e outros bichos. Já os incas, sempre que tinha uma seca, inundacoes ou terremotos nao hesitavam em matar gente mesmo. Na Roca Sagrada foi onde o deus Viracocha, emergindo das águas do Titicaca criou Manco Capac, o primeiro inca, segundo a lenda incaica, aos pés da rocha sagrada. Na Isla del Sol moravam sacerdotes e pessoal de apoio que trabalhava no cerimonial. Sempre nas datas festivais, o Inti Raymi, por exemplo, solstício da primavera, a ilha lotava de incas para celebracoes. Até hoje, já uma festa católica, é realizada uma série de cerimonias na ilha no solsticio da primavera.


A Rocha Mae do Manco Capac
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Ao lado da Isla del Sol, está a Isla de La Luna, dedicada ao culto do feminino. Na ilha, no tempo dos incas, moravam 50 mulheres, as mais belas de todo o Império, escolhida a dedo pelo Inka. Elas esperavam a vez de serem sacrificadas. E o pior de tudo, iam com boa vontade, sabendo que estavam satisfazendo um desejo do Inka, que era a encarnacao do deus-sol na Terra. Era uma honra para os pais terem uma filha escolhida para viver na Isla de la Luna.


O altar de sacrifícios onde se matava a mulherada

Depois de conhecer a parte Norte da Ilha - 9km de comprimento por 5km de largura - tinha duas opcoes: voltar para o barco (junto com os outros brasileiros) e ir via água para Yumani, a cidadezinha maior e situada na parte sul, ou percorrer a pé a ilha, pelas montanhas, com incríveis paisagens do Titicaca. Claro que fui pra Yumani a pé.


Esquerda: voltar para o barco. Direita: caminhar por uma trilha de 3000 anos até o outro lado da ilha. Que dúvida...

O lago sagrado Titicaca
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Pô, e eu ia perder uma vista dessas?

É uma longa caminhada de 4h, cheia de aclives e declives. Mas vale a pena. Só o fato de saber que se esta caminhando por uma estrada de 2500 anos. E ela é pavimentada com pedras. Mas isso mais recente, só a 600 anos atras, quando os incas tomaram conta da ilha.


A estradinha de 2500 anos

No caminho encontrei um casal de peruanos. Eles estavam mal mesmo. A caminhada nao é facil. Acabei por fazer uma gentileza a guria e emprestei meu boné para ela. Que mancada. Como rapei o coco, acabei queimando a careca. Agora nem consigo botar boné. O sol brilha mais forte por aqui. Tem que usar protetor solar sempre.

Chegando em Yumani, optei por passar a noite na ilha. Até porque o último bote para o continente partia as 16h. Os peruanos queriam ir mas tiveram que ficar também. Fiquei num pequeno alojamiento a 30bs. Há diversas opcoes na ilha. O legal é que sao administrados pelos proprios moradores. Pra se ter uma ideia da tranquilidade do lugar, a energia elétrica funciona só até as 22h30min.
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Acordei cedo na quarta e fui dar um passeio pela zona sul. Queria ter ido a Isla de la Luna, mas nao deu. Os botes para lá saíam pela manha e voltavam á tarde. Daí teria que pegar o das 16h para Copa, e nao daria tempo de conhecer a cidade ja que teria que estar em La Paz na quinta bem cedo pra tirar os pontos do machucado.


A Isla de la Luna. Um bom lugar para se morar naquele tempo. Se voce nao fosse mulher, é claro
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Vista do continente pela Zona Sul da Ilha do Sol

Entao peguei o bote das 10h30min para Copa. Só gringo no bote. Das 50 pessoas, tinha só uma véinha boliviana. Cheguei la, almocei e fui conhecer a cidade. Fui na imponente Catedral, caminhei pelas ruazinhas e resolvi subir no Cerro do Calvário, que disseram que a vista era fantástica la de cima.


Os gringos mochileiros. Nao liguei o flash pra nao acordar o pessoal


O imponente altar da Catedral. De ouro

Ainda bem que nao sou catolico e nao sabia quantas estacoes duravam a Via-Crucis de Jesus. Estaçoes pra mim sao quatro. Subindo pela montanha, a cada momento, vao aparecendo cruzes contando a historia do calvário, estacao por estacao, ate chegar la em cima onde existem outras crendices religiosas. Mas a vista é impressionante. De um lado o Titicaca, embaixo Copa.

Baks no topo do Cerro do Calvário. Via-Crucis fui eu que fiz pra chegar até lá em cima.

Vista do porto de Copa. De onde saem os barcos para a Ilha do Sol

Lá embaixo é a cidade de Copacabana

O Titicaca, lá de cima do Cerro do Calvário

Voltei para o chao e peguei um onibus para La Paz, onde estou agora. É impressionante o número de montanhas no caminho onde há terraços de cultivo abandonados, do tempo dos incas. Nao havia fome de jeito nenhum naquela época.
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Terraços abandonados. Na foto, mais para baixo, alguns sao aproveitados, mas é a imensa minoria

Chegando em La Paz, fui no hospital e saquei los puntos. Acho que ainda preciso de uma semana pra entrar em forma de novo. Daqui a pouco vou para Potosi. Como acabei ficando mais tempo que o previsto em Copa, acabei por tirar Sucre da viagem. Se pudesse até ficava mais tempo em Copa.

PS: Um feliz cumpleaños ao Dindo Bode. Perai pessoal, nao se trata de culto a alguma divindidade candomblé. Trata-se do meu querido padrinho cujo apelido é Bode, que esta de aniversário por esses dias.
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Da série músicas que nao podem faltar no seu MP3 Player
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O Palhaço do Circo Sem Futuro – Cordel do Fogo Encantado

Todos Estão Surdos – Chico Science & Nação Zumbi

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Chacaltaya

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Hola!

Bueno. Continuamos de onde paramos. No sábado. Um dia tipicamente urbano. Dei uma volta pelo Prado, uma das poucas áreas planas de La Paz, onde ficam bancos e restaurantes. Um lugar muito legal de dar uma caminhada. Também fui fazer compras e caminhar pelos mercados de La Paz. Um deles, o Mercado de Brujas.

Confesso que pensei que seria mais autentico. Hoje ja esta meio para turistas. As bancas de vendedoras de ervas e "fetiços" estao dando espaço para vendedores de cartoes-postais e souvenirs turisticos. Mas ainda há alguma cousa bruxófila. Vi algumas vendedoras de fetos de lhama. Sei lá pra que que serve. Mas tava lá. Ervas medicinais também, além de amuletos e ceramica "cerimonial", se é que me entendem. Como acho que to com mau olhado, depois de ficar dois dias sem dormir, só me coçando, por causa da alergia que peguei no Paraguay, e depois do tombao de bike em Coroico, comprei uma figuras da Pachamama pra ver se ela faz alguma cousa.
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Isso já é provocaçao
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Voltei pro hotel, nem sai de noite, quase nem podia falar direito e me preparei para o dia seguinte: dia de enfrentar o temido Chacaltaya.

Chacaltaya é a estaçao de ski mais alta do mundo, com 5.400m. Está prestes a desaparecer por causa do aquecimento global. As neves vao diminuindo ano a ano. A estaçao abre somente no inverno, pois no verao é impossivel descer esquiando pois as rochas estao muito salientes, devido a falta de neve. Uma pena, senao eu me largava lá de cima.


No caminho da pra ver o Huayna Potosi, esse com 6.100m

Saímos de La Paz lá pelas 9h e chegamos próximo do Chacaltaya em torno de 11h. A van tem que subir por uma ingreme estrada de terra, um descuido pode ser fatal. Isso que o motora bateu num taxi na saída de La Paz. Adrenalina pura. Após uma pequena caminhada chegamos a base da montanha, no chalé e sede do Clube Andino Boliviano. Tomamos um forte mate de coca e fomos subir a montanha.


Baks na entrada do Clube, no sopé da montanha
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Pois é. Dos 9 do nosso grupo, 5 desistiram. Muitos desistem ali. A subida é fueda. Também tinha pensado em desistir. O frio e o vento sao muito fortes. Há risco de escorregar e despencar montanha abaixo. A subida em alguns pontos chega a ter quase 60 graus. A falta de ar para respirar é grande, devido ao ar rarefeito da altitude.
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Baks X Chacaltaya

Mas fui. Peguei umas folhinhas de coca pra mascar e fui. Parando de 2 em 2 minutos para respirar. Devagar e sempre. Cheguei no cume do Chacaltaya. Montanha vencida. 5.400m. Recorde baketense. Quando se chega lá em cima, a única coisa que se pensa é voltar o mais rápido possível. Dei um tempo vendo a incrível paisagem. Dá pra ver El Alto, a cidade ao lado de La Paz. La Paz nao da pra ver porque ela tá num vale, um buraco.


Baks no topo do Chacal. Ta dominado. Ta tudo dominado.

Quando tava subindo o tempo tava se armando. Lá em cima começou uma nevasca fina. Resolvi voltar para a base. A descida quase pior que a subida porque há mais risco de escorregar. Eu mesmo cai tres vezes. Cheguei lá embaixo e a neve caia forte. Depois da tradicional guerra de neve e da tentativa frustrada de fazer um boneco, voltamos para a van.


Já na volta, Baks contempla os 100m de subida. O marrom na parte trazeira nao é isso que voces estao pensando e sim o resultado das tres quedas na descida.


Esse automóvel teve a honra ou o desprazer de ter estampada a palavra Baks por 20 segundos

Fomos a segunda parte do passeio, o Vale de La Luna, nos arredores de La Paz. Trata-se de uma formacao rochosa, que por causa da erosao, devido estar numa parte baixa, onde recebe ás aguas dos riachos que descem das montanhas, se parece com o territorio lunas. Nao é muito interessante. Acho que fizeram um marketing legal do troço. Terminado o passeio, voltamos para La Paz. Tudo isso por 50 bs, mais 15bs para o Chacaltaya e 15bs para o Vale, com guia. Em reais, R$ 22,00.


A paisagem lunar do Vale de la Luna

Mais tarde, na volta fui no Mirador Lakaikota, um morro bem no meio de La Paz. Lá em cima, se tem uma visao 360 graus da cidade. Os pacenos aproveitaram e fizeram um parque infantil lá. Lota no domingo. Voltei para o hotel e a noite fui dar uma caminhada no Prado.


No Mirador, uma mulher com um megafone falava que o Juízo Final estava próximo. Essa praga também tem em tudo o que é lugar

Bueno. Adios La Paz. Em lunes, me voy a Copacabana, nas margens do Lago Titicaca.
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Algumas comparaçoes pacenas:

Coca-Cola 500ml: R$ 1.10
Gasolina (litro): R$ 0.90
A la minuta em restaurante ótimo: R$ 5.00 com refri
Onibus (nao ha, mas sim lotacoes): R$ 0.30
Taxi (trajeto Beira-Rio / Centro): R$ 2.70
Batata Pringles grande: R$ 4.20

Os Incas
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Parte 1: As Invasoes Bárbaras

Capítulo 2: A civilizaçao incaica

Nao é à toa que essa primeira parte chama-se As Invasoes Bárbaras. Os invasores, nesse caso, foram os próprios incas, que na base da força ou "diplomacia" conquistaram e subjugaram os povos vizinhos.

O primeiro imperador inca que se tem noticia chamava-se Manco Capac, isso no ano de 1.200. Segundo a lenda, Manco Capac, filho de Ayar Manco, criado pelo deus Viracocha, que surgiu das profundezas do Lago Titicaca para criar os homens. Manco Capac era a personificacao do Deus-Sol na Terra, senhor de tudo e todos. Ele era chamado de Inka, um adjetivo como Rei, Czar, etc. Portanto, Inka com k era o próprio imperador. Daí deu-se o nome de Incas, com c, para designar os pobres mortais governados pelo Inka.

Manco Capac recebeu uma ordem do Deus-Sol para criar uma cidade, Cuzco, que em quéchua, o idioma dos incas, quer dizer "umbigo do mundo". Criado o umbigo, Manco tratou de expandir seu império. Dizendo-se descendentes do Tihuanacu, absorveu grande parte da cultura e tecnologia desta civilizaçao.

Diferentemente dos indios brasileiros, que estavam na Idade da Pedra quando os europeus chegaram aqui, os incas possuíam uma sociedade muito organizada e hierarquizada, de base agrícola. Em muitos aspectos, suas cidades eram mais desenvolvidas que as do Velho Mundo, como na pavimentaçao de estradas e abastecimento de água. Dominavam sofisticadas técnicas de construçao, permitindo erguer templos, fortalezas e palácios, que poderiam estar de pé até hoje, caso suas pedras nao tivessem sido aproveitadas pelos espanhóis para outras construçoes.

Estradas pavimentadas uniam os vários pontos do Império. Elas eram percorridas a pé, pois os incas nao conheciam a roda (ou nao utilizavam). Bois, cavalos e outros animais de tracao nao existiam no continente americano (pois é, gado e cavalo sao animais trazidos pra ca em navios). As lhamas eram usadas apenas para transportar carga leve. Sao animais muito temperamentais. Se transportar sobrepeso, ela simplesmente nao anda. Só se tirarem o excesso de peso. A noite tambem nao. Se forçadas, elas simplesmente cospem sobre o importuno.

Isso torna mais impressionante ainda os complexos arquitetonicos como Machu-Pichu, no topo de montanhas.

Os incas cultivavam milho, feijao e principalmente, batatas, em terraços nas encotas das montanhas, irrigados por aquedutos e canais, adubado com guano, cocô de aves marinhas, trazidos do litoral. A importancia do guano era tamanha que quem matasse uma dessas aves era condenado à morte.

Os incas eram hábeis artesaos, esculpindo em madeira e outros materias. Dominavam a fabricaçao de ceramica e a metalurgia do bronze. Porem nao conheciam o ferro. Ouro e prata nao tinham valor economico e somente serviam para adorno pessoal e religiosos. O trabalho desses metais era realizado no "tempo livre", sendo considerado superfluo.

Sua alimentacao tinha como base produtos agricolas, como cereais, frutas e nozes. Domesticaram a lhama e o porquinho-da-índia (que nao é da Índia, como sabemos agora), utilizados como alimento, bem como peixes e mariscos.

O calendário incaico tinha doze meses. A cada mes deveriam ser realizadas determinadas atividades, ccompatíveis com as estaçoes do ano, que começava no solstício de verao, em dezembro.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

A Estrada Mais Perigosa do Mundo

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Ai...
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Falei que nao era fácil.
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Assim como o outro herói brasileiro, havia uma Tamburello na minha vida.

Entrei rápido demais na curva e bum, cai de cara no chao. Resultado: um pequeno talho na testa, alguns arranhoes no nariz, um lasca de dente e quatro pontos entre o nariz e a boca. Mas nada que me faça voltar pro Brasil. Continuamos sempre.
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Saímos quinta bem cedo e fomos de van até La Cumbre, um ponto situado a mais de 4000m de altitude. De lá da pra ver o Huayna Potosi, uma montanha com mais de 6000m. Um frio intenso. Colocamos a roupa protetora de naylon. Testamos as bikes e saímos. Os primeiros 37 km sao em estrada com asfalto. Voce nem precisa pedalar pois é só descida. No caminho dá pra ver uma represa onde bolivianos geram energia elétrica, só com as águas que descem das montanhas. O visual é incrível. Em certo ponto, de tanta névoa, só é possivel ver o camarada da frente. Os dedos das maos parecem que vao congelar.
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La Cumbre
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O pessoal do grupo antes de começar a descer, descer e descer
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Terminado o asfalto, comeca a aventura: 33km até Coroico, situada a 1500m de altitude, pela estrada mais perigosa do mundo. Eu que o diga. Já morreram seis turistas, desde 2004, fazendo o down-hill. Em várias partes existem cruzes na borda do penhasc0 indicando um acidente fatal. A estrada é pura pedra. Tem uns 3m de largura, serpenteando montanhas. Em nenhum momento é necessario pedalar. 30 km descida abaixo. O visual é cousa de loco.


Fim do asfalto. Agora começa o pedregulho.


Lápides indicam o local onde desafortunados resolveram voar

Daí o clima inverte. Quanto mais vai descendo mais calor vai ficando, tornando-se insuportavel. A encosta das montanhas, antes apenas pedras, começam a ficar verdejantes. Lá embaixo, no vale, pura floresta. E muita água descendo pela montanha, fazendo córregos que passam pela estrada. Muitas cachoeiras também. Em certa parte, tem que se passar sob uma. Nao tem como desviar.


A estradinha
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Baks na beira do penhasco. Até aí tudo bem, depois do tombo, me irritei e parei de tirar fotos

Após 5h e 70km, chegamos em Coroico, lá pelas 14h. Coroico fica numa encosta de uma montanha. Nao existem lugares planos. As ruas paralelas tem um desnivel de alguns metros. Nao sei porque alguem resolveu fazer uma cidade la. A cidadezinha hoje é refúgio de pacenos ricos que querem fugir no fim-de-semana do frio de La Paz. Tem vários hoteis la. Mas é muito dificil de chegar. Estao construindo uma nova estrada até lá, mas na volta tivemos que parar tres vezes porque havia deslizamento de terra das montanhas. Porem, a vista la de cima, da cidade de Coroico, é algo que fica difícil de escrever aqui.


Vista do hotel em Coroico

Almocamos e voltamos para La Paz. Me deixaram num hospital pra fazer os pontos. Que diacho. Nao vou poder curtir a noite de La Paz no fim de semana. Mas semana que vem ja to bom de novo. No final do passeio voce ganha um CD com as fotos e uma camiseta. Na volta, brinquei com o pessoal do grupo (só gringo): "My T-Shirt is write: I DONT survive..."

Pois é. Entrei meio rápido demais numa curva e me espatifei no chao. Acidente. Nem por isso quem for a La Paz deve deixar de fazer o passeio. Recomendo muito. Eu mesmo faria de novo. Só iria um pouco mais devagar naquela curva.

Hoje, sai para visitar museus pacenos. Caminhei pela Plaza Murillo, onde ficam a Catedral e o lugar onde mora o Evo Morales. Na Plaza Murillo moram os pombos mais gordos que eu já vi. Nos cantos da praça existem vendedores especializados em milho picado e alpiste. As crianças enchem o saco dos pais fazendo com que eles comprem comida para os pombos. E os bichos passam o dia todo comendo.


Os gordos pombos da Plaza Murillo. Ao fundo, a catedral

Depois fui visitar os museus municipais. Voce compra a 4 bolivianos o ingresso que permite acesso a quatro museus. Primeiro fui no Museu Juan de Vargas, situado numa reformada casa colonial. O museu proporciona uma boa introducao às tradicoes folclóricas do altiplano e a história de La Paz, por meio de reprentaçoes em miniaturas de fatos historicos e personalidades.

Maquete da morte do "último Inka", Tupac Katari, lider aimará que sitiou a cidade em 1780 tentando libertar o povo do domínio espanhol
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Depois fui visitar o Museu do Litoral Boliviano. Pois é, os bolivianos tem um museu para recordar uma guerra perdida, a Guerra do Pacífico, em 1879, contra o Chile. O museu conta os motivos e antecedentes que levaram à invasao pelo Chile do território marinho boliviano. Mais tarde, o Peru se aliou à Bolívia e também perdeu parte do seu território. O Chile praticamente dobrou de tamanho depois da guerra. Até hoje os bolivianos reinvindicam a devolucao do território perdido para o Chile no confronto.


A traduçao quer dizer mais ou menos o seguinte: Seus chilenos fiasdapu, queremos um lugar para treinar pro WCT

Saindo do Museu "Quero Minha Praia de Volta!", fui visitar o Museu de Metales Preciosos. Todos os acessos sao internos desses museus, saindo de um voce vai chegando aos outros. Esse museu abriga peças em prata e ouro confeccionadas pelas culturas tiahuanacu e inca. Na sala das pecas em ouro, uma enorme porta-cofre e varias cameras espalhadas cuidam para que ninguem se aventure a levar um "souvenir" para casa.

A saída do museu é na Calle Jaen, uma pitoresca rua de La Paz, com casario colonial em ambos os lados, cheia de lojas e restaurantes turísticos. Lugar muito agradável.


A pitoresca Calle Jaen

Voltei para o hotel e fui descansar. Amanha cedo tenho que voltar ao hospital pra ver como tá o machucado. Vou tirar os pontos só na quarta. Amanha a programacao é de novo urbana. Alguns outros museus, sacar fotos no Mirador Lakaikota, passear pela parte chique de La Paz, o Prado e comprar algumas "coisas" no Mercado de Brujas, talvez um feto de lhama. Yo no creo, pero que las hay...

Fui.

Da série filme que voce nao pode deixar de baixar para o seu PC

Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes. (Lock, Stock and Two Smoking Barrels, Inglaterra, 2000), de Guy Ritchie. Sabe aquele filme que você começa a ver, é legal, mas no meio parece que não acontece nada e vai se tornando chato... pois é, é o caso de Jogos, Trapaças.... mas se você ver até o final vai se levantar da poltrona e dizer: Bah, que filme legal!. O filme é o seguinte, são vários grupos de personagens que acabam se entrecruzando na história, cada um quer alguma coisa (dinheiro claro), mas de forma diferente. O centro da história são quatro rapazes que tem que levantar uma quantidade de dinheiro para pagar uma dívida de jogo – Lock – no qual eles foram trapaceados – Stock –. Eles acabam tentando assaltar seus vizinhos, um bando de criminosos que possuem paredes finas demais. Para isso eles compram armas - Two smoking barrels - raras que seriam vendidas ao chefão que eles já estavam devendo... Guy Ritchie, que é marido da Madonna, não sofreu a “Síndrome do Segundo”. A Síndrome do Segundo é quando uma banda, por exemplo, lança um primeiro disco, visceral, pobre, mas autêntico e cai nas graças da crítica. Já com contrato com gravadora, dinheiro e um monte de gente dando pitaco, a segunda obra não consegue agradar como a primeira. O segundo de Guy Ritchie, Snatch – Porcos e Diamantes, segue o mesmo estilo de Jogos... e é tão bom quanto.
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