segunda-feira, 10 de março de 2008

As linhas de Nazca, Ballestas e Paracas

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A quarta-feira estava reservada para o sobrevoo para ver as enigmáticas Linhas de Nazca.

As Linhas de Nazca formam estranhos desenhos geométricos e figuras estilizadas de animais, como o macaco, baleia e aranha. O incrivel é que elas somente sao vistas do alto, nao se pode ver do solo. Para que os nazcas, uma cultura que viveu entre os anos 300A.C e 400D.C. as fizeram entao?

Pois, cada um, cada um. Pode se pensar o que quiser pois ate hoje ninguem sabe ao certo o motivo de se fazer esses desenhos no solo. Os mais esotéricos dizem que seria para se comunicar com os extra-terrestres. Ja escreveram muitos livros sobre isso. O certo é que as figuras representavam os deuses nazcas, que eram animais. Duas coisas bem estranhas: primeiro, a figura de um macaco. Ora, sabe-se muito bem que macacos só existem na selva. Entao, de donde diabos eles tiraram um macaco entao? Dizem os experts que a resposta para isso indica que os nazcas foram os primeiros turistas que se tem noticia, viajando por muitos quilometros ate a selva. Lá viram o macaco e entao o desenharam em Nazca. O segundo, mais interessante e perturbador é o desenho de um "astronauta", uma figura humanoide com grandes olhos.... é a deixa para se acreditar em visitas marcianas na regiao. Afinal, como diria Carl Sagan, eram os deuses astronautas?


A figura do beija-flor

Uma grande estudiosa das famosas linhas foi a alema Maria Reiche. Reiche acreditava que as linhas formavam um calendario astronomico dedicado a agronomia. Ela diz tambem que o famoso astronauta é na verdade um xama, e que os olhos grandes seriam porque ele tomado um alucinogeno em algum ritual.


Nazca vista do alto

Depois do sobrevoo (40 dolares) por 40 minutos, comprei o passeio ao Cemitério de Chauchilla. Como o passeio comeca as 10h30 e tinha uma hora ainda, fui visitar o Museu Antonini, que conta a historia da civilizacao Nazca.

O povo Nazca descende de um povo mais ao norte, os Paracas, que viveram antes e trabalhavam tecidos. Os Nazca trabalhavam a ceramica. Eles sao mais conhecidos no meio arqueológico pela ceramica do que propriamente pelas linhas. E realmente é impressionante a riqueza de detalhes e a formosura da ceramica Nazca. Eles trabalhavam em 12 cores diferentes, todas retiradas de rochas minerais. Essa cores se transformavam em mais de 200 matizes distintas.

O Cemitério de Chauchilla é um dos maiores das culturas pré-colombianas. Infelizmente, a partir de 1900 as tumbas (huacas) foram quase todas saqueadas pelos huaqueros em busca de tecidos e ouro. Hoje se busca preservar o que resta. De tanta destruicao voce acaba caminhando por cima de ossos humanos no chao. Algumas tumbas foram recriadas para mostrar como eram antes. O morto era enterrado em posicao fetal e com oferendas como alimentos, ja que se acreditava na vida apos a morte e o defunto poderia sentir fome na outra vida...


Uma múmia no pequeno museu do cemitério


A reconstituicao de uma tumba no cemitério de Chauchilla. Saca que a do meio é hippie

O que vou contar agora nao se faz, de maneira alguma. Queria roubar um cranio. Para botar na sala como decoracao. Só que ia dar muito na vista. Acabei levantando um femur. Ah, tava tudo no chao atirado. Dai nao me deixaram levar. Virei huaqueiro. So podia carregar o que cabia no bolso dae peguei um pedaco de osso humano de 2000 anos, escondi bem e me fui. Que coisa feia. Isso nao se faz.

Voltei para Nazca. Ia fazer a maratona ate Paracas. Peguei minha equipaje e fui para Pisco. Tomei o bus das 13h30 ate Ica, distante 2h e a cidade mais grande da regiao. Em Ica, peguei outro bus às 15h45 para Pisco. Na verdade, ate Cruce de Pisco, porque Pisco esta a 7km da estrada principal. Pois bem, cheguei ate a tal Cruce de Pisco e tomei um taxi coletivo (1 sol) ate o centro de Pisco.

Vou contar sobre Pisco. Há uma data que ninguem esquece que nao vao esquecer tao cedo na cidade: o 15 de agosto de 2007. Um terremoto de 8 graus na escala Ritcher teve seu epicentro na cidade. Foi sentido em Lima e nos arredores. 500 mortos em Pisco. No litoral barcos foram encontrados até 3km adentro em terra.

Bem, nunca vi uma cidade bombardeada mas acho que o que vi em Pisco se parece muito. O Iraque e o Afeganistao estao aqui. Ja se passaram muitos meses do terremoto mas a cidade ainda esta completamente destruida. Muitas pessoas vivem em casinhas de lona e madeira doadas por varios paises. Dá pra ser ler "do Gobierno de la Republica da Turquia para el pueblo de Pisco", assim como outros. Muito ja foi reconstruido pero se puede ver espacos com piso e nada em cima, ou seja, havia uma casa ali. Esses espacos estao em todas as quadras da cidade.


O desnivel do calcadao na praia em Paracas


Da igreja de Pisco, so sobraram a duas torres


Veja um exemplo de como ficaram as casas em Pisco

Em Pisco peguei outro coletivo (1.50 soles) ate Paracas, onde ia passar a noite. No caminho podemos ver o Peru industrial, com varias e enormes fabricas de processamento e beneficiamento de pescado. Cheguei em Paracas e comprei os passeios para o dia seguinte, Ilhas Ballestas e Reserva Nacional de Paracas por 50 soles.

No outro dia, quinta, fui conhecer as Ilhas Ballestas. Bem, ja havia planejado essa viagem a muito tempo e sempre tenho uma ideia do que vou ver e conhecer. As Ilhas Ballestas foram a coisa mais surpreendente que vi ate agora em toda a viagem.


As paradisiacas Ilhas Ballestas


Mais das Ballestas

Ela é chamada a Galápagos do Peru. Trata-se se uma formacao rochosa muito bonita que so isso ja vale o passeio. As Ballestas sao como um ponto de encontro de aves migratorias de todo o mundo, desde o Alasca ate a Antartida, a bicharada se encontra ali para comer e procriar. Sao 215 especies de aves: albatrozes, pelicanos, pinguins. Tambem nas Ballestas vivem lobos e leos-marinhos e focas. Marco é muito especial pois é quando nascem os bichinhos. Da pra ser ver as pequenas focas na ilha. O barulho é ensurdecedor pois eles ficam o tempo todo gritando.


Os leoes-marinhos e focas "lagarteando" nas Ballestas

No caminho para as ilhas passamos por mais um desenho nazca de 2000 anos: o candelabro. Ele aponta para exatamente onde estao as linhas, distantes 200km dali. Tambem da pra ver os golfinhos, que parece fazer pose para as fotos e baleias.


O candelabro. Por que? Ninguem sabe

As ilhas estao cobertas por uma substancia branca, o guano, que nada mais é do que coco de ave. Só que o guano é o mais potente fertilizante natural do mundo. Os incas usavam o guando das ballestas nos seus terracos de cultivo. Para os incas, as aves das Ballestas eram tao importante que quem matasse uma era condenado a morte. O guando é um dos principais produtos de exportacao do Peru atual. Duas vezes ao ano, o material é recolhido, processado e vendido a preco bem caro.


Esse branco é o guano, o cocô da aves


A plataforma onde se sobe na ilha para retirar o guano e literalmente meter a mao na merda

Uma das coisas mais interessantes para ver sao as aves pescando. Forma-se um grupo de umas dez. Uma delas voa rasante ao mar procurando cardumes. Quando ela toma velocidade as que estao bem acima descem com tudo, em alta velocidade, como kamikazes e entra na agua para pescar. Impressionante.

O excesso de naturaleza nas Ballestas é explicado pelo seguinte: ali, as aguas nao sao tao frias, o que faz com a profusao de algas seja intensa, o que é um banquete para os peixes. Naturalmente aparecem as baleias e aves para comer os peixes. Com tanta ave aparecem as focas e leos-marinhos para comer as aves. Com tanta ave, a caganca é grande e aparece o homem para recolher o coco e usar como fertilizante. E aparecem os turistas para ver tudo isso e ficar de boca aberta.

A segunda parte do passeio foi a Reserva Nacional de Paracas onde pudemos ver uma estranha formacao rochosa chamada La Catedra. O problema é que o terremoto de agosto passado nao poupou nada, nem a natureza e fez parte da "Catedral" ruir. Salimos dali e fomos a Baía de Paracas, onde se pode tomar banho na praia, apreciar a linda paisagem e almocar. Fui comer o Ceviche, que ja haviam dito pra comer antes. Trata-se de peixe cru, escolhi o linguado, com bastante suco de limao. É bom o ceviche, principalmente se voce nao pensar que o bicho ta cru.


Na Reserva Nacional de Paracas a placa é um exemplo de como sao as estradas no Peru
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Diz o guia que isso se parecia com uma catedral antes do terremoto


Baks estava batendo altos papos com o amigo pelicano à esquerda

Bueno. Voltamos para o centro de Paracas, onde peguei minha mochila e refiz a maratona do dia anterior: coletivo para Pisco, coletivo pra Cruce de Pisco e dae busao para Lima, onde la pelas 21h cheguei. Liguei para o amigo Gerald, meu anfitriao na cidade e fui para o ape dele. O fim-de-semana seria limeño.

Os Incas

Capítulo 2: O Declinio do Império Sul-americano

Parte 1: Chegam os Espanhóis

Se é assombrosa a rapidez com a nacao inca se formou e dominou os povos vizinhos, é ainda mais espantoso um império desse porte ter desmoronado com a chegada de tres navios que traziam 180 espanhois e 37 cavalos. Isso ocorreu em 1932, quando Atahualpa ja derrotara o irmao Huascar.

Francisco Pizarro é o nome da fera. Filho de uma camponesa, engajou-se no Exército espanhol e logo ascendeu de posto, sendo enviando a colonia espanhola do Panamá. Nessa época, o Mar del Sur, na costa peruana, ja fora navegado, porem os espanhois nao viram nada que chamasse a atencao.

Por uma dessas coincidencias da História, Pizarro desembarcou no Peru num momento muito particular. A disputa entre os irmaos desencadeou uma violenta guerra civil, desarticulando o império. Muitas das provincias conquistadas nao estavam aculturadas, era um imperio jovem, ja que fazia apenas 100 anos do inicio de sua expansao. Outras simplesmente odiavam os incas colonizadores e encaravam os espanhois como salvadores, sendo facilmente engajadasa por Pizarro que formou um exercito com indios anaconas (homens de tribos vencidas, que haviam sido dominados pelos incas) e indios das colonias do Caribe.

Atahualpa ja sabia que estranhos homens barbudos e brancos vinham rondando a costa de seu reino há muito tempo e que haviam desembarcando no norte do território. Porem, por ter sido informado que eram poucos e por estar ocupado com a guerra civil, nao deu atencao ao assunto: quando fosse o momento, cuidaria dos estrangeiros. Esse foi o primeiro dos seus erros.

Os espanhois estava passando por maus bocados: fome, doencas tropicais, insetos, ataques de indios. Num dos momentos mais dificeis, Pizarro teve que se abrigar numa ilha com apenas 13 homens enquanto Diego de Almagro, seu sócio na empreitada, voltava ao Panama para buscar reforcos. A situacao comecou a melhorar quando foram bem recebidos pelos imdios de Tumbez. Foi aí tambem que viram pela primeira vez a cor do ouro.

Procurando a colaboracao dos indios, Pizarro prometeu que nao os atacaria, tratando os indios como "criancas" e nao demonstrando interesse pelo ouro. Essa estrategia deu resultado pois os indios se referiam aos espanhois - e espalharam a noticia - como bons homens que nao matavam nem roubavam, nem faziam mal a ninguem. As armas de fogo e os cavalos impressionavam os indios que achavam que os espanhois eram divinos. Mas os indios logos perceberiam com quem estavam lidando.

Um dos maiores problemas de Almagro e Pizarro é que nao sabiam para onde ir. Aos poucos foram seguindo para o sul, encontrando cada vez mais ouro. A medida que o metal aparecia, Almagro recrutava mais homens, soldados e cavalos. Ele voltou para a Espanha e consegui o apoio real para a conquista e o cargo de Governador Geral das novas terras. Pizarro claro, nao gostou nada nada e as desavencas entre eles comecavam aqui.

Com o apoio da Coroa Espanhola, sairam do Panama 180 homens, desta vez para uma expedicao nada amigavel, fazendo com os indios passassem a ver os brancos barbudos como gente cruel, que andavam pelas terras matando saqueando seus enfeites de ouro e prata e violentando suas mulheres. Homens eram escravizados e servindo como interpretes a medida que iam aprendendo o castelhano. Mulheres eram levadas para servir fazendo comida e sendo comidas. Assim, na marcha que culminaria em Cusco, as tropas de Pizarro foram espalhando seus genes e a sífilis. O contato com os espanhois - que ja vinha de alguns anos atras - provocou epidemia de variola e outras doencas que os indios nao tinham resistencia. Pizarro entrou pelo norte, onde ja havia estado antes e encontrou aldeias inteiras dizimadas pelas doencas. Nem era necessario lutar. Os que haviam sobrevivido estavam tao doentes que eram presas faceis. Podemos dizer que foi um dos primeiros casos de guerra biologica do mundo.

Segundo os historiadores, o que derrotou os indios foi o medo do desconhecido. Das armas de fogo e principalmente, dos cavalos, animal que nunca haviam visto antes. Eles imaginavam que esses equinos comiam carne humana. No inicio da marcha, quando um cavalo morreu, Pizarro mandou enterrar para que os indios nao percebessem que eram mortais. Quando os conquistadores investiam a cavalo, os indios saiam correndo, apesar de mais numerosos, sendo facilmente abatidos. O terreno (arido e sem arvores) facilitava o deslocamento rapido e o uso do cavalo e dificultava para os indios a tocaia. Em campo aberto, os incas nao tinham a menor chance. Seus porretes de bronze, que funcionavam tao bem com outras tribos nao eram páreo para as espadas de ferro dos espanhois.

A diferenca numerica era tao grande que os conquistadores poderiam ser facilmente abatidos com uma saraivada de flechas, mas os nativos estavam desorientados sobre o que fazer, pois nao houve uma ordem expressa de Atahualpa para que enfrentasse os invasores. A maior parte do Exercito Inca estava preparado para a guerra civil, longe do norte. Assim, alguns tentavam resistir mas, a menor arremetida dos cavalos saiam correndo, outros abandonavam as aldeias e fugiam ao menor sinal de proximidade do bando.

Pizarro, com isso, foi tomado por um excesso de confianca. Ao inves de voltar, para recrutar mais soldados, foi seguindo em frente. Ousado demais. Nao sabia onde ia chegar, mas seguia em frente. Mas a maior ousadia ainda estava por vir.

2 comentários:

Anônimo disse...

Difícel é saber quem é o pelicano.

Bruno Araújo Oliveira disse...

Mai me diz uma coisa, as linhas de nazca são feitas na pedra ou na areia????