quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Copacabana, a Princesinha do Lago

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Saí de La Paz na segunda à noite. Acabei demorando demais pra resolver umas cousas e só consegui pegar o "transporte" para Copacabana no final da tarde. Sabe aqueles ônibus que a gente vê em filme, com um bagageiro em cima onde o pessoal coloca de tudo um pouco? Pois é, tava num desses. A estrada entre La Paz e Copacabana é boa. O problema é o motora. Como a estrada é cheia de curvas, tinha que torcer para que nao viesse um outro carro em sentido contrário. O motora andava de um lado pra outro na estrada, pra fazer melhor as curvas.

Para chegar em Copacabana tem que atravessar o Lago Titicaca, no estreito de Tiquina. É estranho porque Copacabana é uma pedaço da Bolívia dentro do território peruano. É possível chegar lá somente por terra, mas daí tem que entrar no Peru. Entao, emoçoes mais fortes estavam por vir.
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Já era quase noite e um temporal estava se armando. O "transporte" pára nas margens do Titicaca, a galera desce e pega um bote até o outro lado, enquanto o "transporte" vai via balsa. Pois é, temporal chegando e nao é que o bote apaga no meio do lago. E ficamos dez minutos a deriva. Dos dois lados tudo preto e a chuvarada e vento chegando. Mas chegamos salvos do outro lado. Embarcamos no "transporte" e chegamos em Copa já a noite, após 4h de viagem.

Fui direto procurar um hotel. Achei uns amigos brasileiros que conheci em La Paz, mas o hotel deles já estava ocupado. Me quedei no Hostal Wara, a 40 bolivianos. No outro dia cedo, ia tomar o bote até a Isla del Sol.

Copacabana é uma cidadezinha de 8 mil habitantes. É o centro religiosos da Bolívia. Lá tem uma imensa catedral dedicada à Virgem de Copacabana. Nas festas religiososas a cidade ferve. Copacabana tem esse nome porque..... porque sim. A outra Copacabana, a do Rio é que tem o nome em homenagem à Copacabana boliviana. Diz a lenda que pescadores peruanos, passando por uma tormenta na costa do Rio pediram socorro à Virgem de Copacabana. Como o nome pegou acredito que eles se salvaram.

E tem muito gringo em Copa. Todo mundo querendo ir conhecer a Isla del Sol e a Isla de la Luna, os centros religiosos sagrados pré-colombianos. A cidadezinha é puro hotel, albergue, hostal e restaurante. Opçoes para todos os bolsos e gostos.

Bueno. Cedo peguei o bote até a Isla del Sol. Deixei o grosso de minha bagagem no hotel e fui so com o necessario. 2h de viagem navegando pelo Titicaca, a 15 bs. Optei por desembarcar na parte norte, na localidade de Challapampa. Lá é onde ficam os lugares sagrados dos tihuanacu e dos incas. Os primeiros a ocupar a ilha e transforma-la em lugar sagrado foram os tihuanacotas, até sua desintegraçao, em 1100. Depois foram os incas, vindos do norte, isso já em 1300. Portanto, é necessario identificar as diferencas entre as duas culturas, do que é milenar, a Tihuanacu e do que é mais recente, a incaica.

Encontrei outros amigos brasileiros lá. Aqueles que encontrei no Chacaltaya e fomos explorar a parte norte da ilha. Com a ajuda de um guia, caminhamos 45min até a primeira atraçao: uma pedra onde os tihuanacos aplicavam a pena de morte aos que desrespeitavam as leis. A cultura tihuanacota tinha tres mandamentos, todos eles punidos com a pena de morte: 1 - Nao roubar; 2 - Nao mentir, 3 - Nao ser preguiçoso. Na pedra é possivel ver as marcas, na altura do peito de cordas onde os desafortunados eram amarrados e depois degolados.
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Se as leis incas valessem até hoje os baianos seriam dizimados

Seguindo mais adiante, chegamos até a Roca Sagrada, a pedra sagrada dos tihuanacotas e dos incas. Em frente a pedra, um altar cerimonial para oferendas e sacrifícios. Os tihuanacotas sacrificavam lhamas e outros bichos. Já os incas, sempre que tinha uma seca, inundacoes ou terremotos nao hesitavam em matar gente mesmo. Na Roca Sagrada foi onde o deus Viracocha, emergindo das águas do Titicaca criou Manco Capac, o primeiro inca, segundo a lenda incaica, aos pés da rocha sagrada. Na Isla del Sol moravam sacerdotes e pessoal de apoio que trabalhava no cerimonial. Sempre nas datas festivais, o Inti Raymi, por exemplo, solstício da primavera, a ilha lotava de incas para celebracoes. Até hoje, já uma festa católica, é realizada uma série de cerimonias na ilha no solsticio da primavera.


A Rocha Mae do Manco Capac
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Ao lado da Isla del Sol, está a Isla de La Luna, dedicada ao culto do feminino. Na ilha, no tempo dos incas, moravam 50 mulheres, as mais belas de todo o Império, escolhida a dedo pelo Inka. Elas esperavam a vez de serem sacrificadas. E o pior de tudo, iam com boa vontade, sabendo que estavam satisfazendo um desejo do Inka, que era a encarnacao do deus-sol na Terra. Era uma honra para os pais terem uma filha escolhida para viver na Isla de la Luna.


O altar de sacrifícios onde se matava a mulherada

Depois de conhecer a parte Norte da Ilha - 9km de comprimento por 5km de largura - tinha duas opcoes: voltar para o barco (junto com os outros brasileiros) e ir via água para Yumani, a cidadezinha maior e situada na parte sul, ou percorrer a pé a ilha, pelas montanhas, com incríveis paisagens do Titicaca. Claro que fui pra Yumani a pé.


Esquerda: voltar para o barco. Direita: caminhar por uma trilha de 3000 anos até o outro lado da ilha. Que dúvida...

O lago sagrado Titicaca
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Pô, e eu ia perder uma vista dessas?

É uma longa caminhada de 4h, cheia de aclives e declives. Mas vale a pena. Só o fato de saber que se esta caminhando por uma estrada de 2500 anos. E ela é pavimentada com pedras. Mas isso mais recente, só a 600 anos atras, quando os incas tomaram conta da ilha.


A estradinha de 2500 anos

No caminho encontrei um casal de peruanos. Eles estavam mal mesmo. A caminhada nao é facil. Acabei por fazer uma gentileza a guria e emprestei meu boné para ela. Que mancada. Como rapei o coco, acabei queimando a careca. Agora nem consigo botar boné. O sol brilha mais forte por aqui. Tem que usar protetor solar sempre.

Chegando em Yumani, optei por passar a noite na ilha. Até porque o último bote para o continente partia as 16h. Os peruanos queriam ir mas tiveram que ficar também. Fiquei num pequeno alojamiento a 30bs. Há diversas opcoes na ilha. O legal é que sao administrados pelos proprios moradores. Pra se ter uma ideia da tranquilidade do lugar, a energia elétrica funciona só até as 22h30min.
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Acordei cedo na quarta e fui dar um passeio pela zona sul. Queria ter ido a Isla de la Luna, mas nao deu. Os botes para lá saíam pela manha e voltavam á tarde. Daí teria que pegar o das 16h para Copa, e nao daria tempo de conhecer a cidade ja que teria que estar em La Paz na quinta bem cedo pra tirar os pontos do machucado.


A Isla de la Luna. Um bom lugar para se morar naquele tempo. Se voce nao fosse mulher, é claro
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Vista do continente pela Zona Sul da Ilha do Sol

Entao peguei o bote das 10h30min para Copa. Só gringo no bote. Das 50 pessoas, tinha só uma véinha boliviana. Cheguei la, almocei e fui conhecer a cidade. Fui na imponente Catedral, caminhei pelas ruazinhas e resolvi subir no Cerro do Calvário, que disseram que a vista era fantástica la de cima.


Os gringos mochileiros. Nao liguei o flash pra nao acordar o pessoal


O imponente altar da Catedral. De ouro

Ainda bem que nao sou catolico e nao sabia quantas estacoes duravam a Via-Crucis de Jesus. Estaçoes pra mim sao quatro. Subindo pela montanha, a cada momento, vao aparecendo cruzes contando a historia do calvário, estacao por estacao, ate chegar la em cima onde existem outras crendices religiosas. Mas a vista é impressionante. De um lado o Titicaca, embaixo Copa.

Baks no topo do Cerro do Calvário. Via-Crucis fui eu que fiz pra chegar até lá em cima.

Vista do porto de Copa. De onde saem os barcos para a Ilha do Sol

Lá embaixo é a cidade de Copacabana

O Titicaca, lá de cima do Cerro do Calvário

Voltei para o chao e peguei um onibus para La Paz, onde estou agora. É impressionante o número de montanhas no caminho onde há terraços de cultivo abandonados, do tempo dos incas. Nao havia fome de jeito nenhum naquela época.
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Terraços abandonados. Na foto, mais para baixo, alguns sao aproveitados, mas é a imensa minoria

Chegando em La Paz, fui no hospital e saquei los puntos. Acho que ainda preciso de uma semana pra entrar em forma de novo. Daqui a pouco vou para Potosi. Como acabei ficando mais tempo que o previsto em Copa, acabei por tirar Sucre da viagem. Se pudesse até ficava mais tempo em Copa.

PS: Um feliz cumpleaños ao Dindo Bode. Perai pessoal, nao se trata de culto a alguma divindidade candomblé. Trata-se do meu querido padrinho cujo apelido é Bode, que esta de aniversário por esses dias.
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Da série músicas que nao podem faltar no seu MP3 Player
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O Palhaço do Circo Sem Futuro – Cordel do Fogo Encantado

Todos Estão Surdos – Chico Science & Nação Zumbi

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito massa os cartões postais.
abraço!