terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

La Plata de Potosí

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Potosí talvez é o lugar mais fascinante e trágico de toda a Bolívia.

Foi daqui, na montanha de Cerro Rico, que se extraiu a prata que financiou a Revoluçao Industrial na Europa.

Tudo começou em 1545 quando um pastor de lhamas perdeu a hora de voltar para casa e acampou nas encostas da montanha. Quando escureceu, ele acendeu uma fogueira para se aquecer e viu o brilho dos veios de prata realçados pelas chamas. A noticia nao demorou a chegar aos espanhóis, sedentos por riqueza e, nos proximos vinte anos Potosí se tornou a maior fornecedora de prata do mundo. No século XVI, Potosí era uma maiores metrópoles do mundo, com populaçao superior a Londres e Madrid, em torno de 160 mil habitantes. A cada dia a prata fazia brotar igrejas, casas imensas, bordéis, saloes de bailes, engenhos e teatros. Menina dos olhos da Coroa Espanhola, foi a única cidade das Américas a receber o título de "cidade imperial".


As pitorescas ruas colonias da cidade de Potosí

No entanto, mais de 7 milhoes de pessoas morreram no Cerro Rico, nos mais de 400 anos de exploracao da montanha, em funcao das condicoes insalubres de trabalho. Os primeiros mineiros, escravos, eram obrigados a trabalhar mais de 12h por dia no subsolo. Nem viam a luz do sol.

Depois da segunda metade do seculo 17, a producao caiu, a prata perdeu valor comercial, reduzindo a populacao da cidade para 9 mil habitantes em 1825. Mais tarde, a cidade teve um novo impulso com a exploracao do estanho, mas nunca retomou o explendor e riqueza dos anos da prata. Miguel de Cervantes, no clássico Don Quixote, cunhou a expressao "Vale um Potosí", para indicar algo muito valioso.

Por toda a heranca colonial, importancia histórica e pelo legado arquitetonico, Potosi foi declarada Patrimonio da Humanidade pela UNESCO em 1987. Hoje, a cidade conta com 160 mil habitantes e sua principal atividade economica continua sendo a mineracao, extraindo o que ainda se pode do famoso, glorioso e trágico Cerro Rico.


Este é o Cerro Rico, a montanha de prata responsável pela glória e riqueza e morte e desgraca de Potosi.

Cheguei em Potosi na sexta, como estava cansado da viagem resolvi dormir e só a tarde fui dar uma banda na cidade, comprar uns passeios e fui visitar a primeira igreja, a de San Francisco, de 1550. Dá pra subir no telhado e ter uma vista espetacular da cidade. É uma daquelas construcoes imponentes de Potosí. Aliás, igreja é o que nao falta na cidade, umas 30, todas com mais de 250 anos. A quantidade de quadros, esculturas é impressionante. Abaixo da igreja, da pra visitar as catacumbas, onde se depositam os corpos dos padres mortos e alguns figuroes da cidade.


Vista da cidade de cima da Igreja san Francisco

À noite, dei uma volta pela cidade, mas nao tinha nada interessante. Fui dormir porque o sabado seria puxado. Ia adentrar o Cerro Rico.

Quando estava fazendo o doc "Ouro Negro" por duas vezes desci a Mina de Carvao Leao I em Minas do Leao, que nao estava mais em atividade mas ainda em manutencao. A mina é bem feita, com escoras, sistema de ventilacao, iluminacao, pouco perigo. Agora, o Cerro Rico é uma mina de 400 anos. Logo no inicio o grupo recebe uma roupa protetora, lanternas e se dirige ao Mercado Mineiro, onde podemos comprar alguns "regalos" aos mineiros. Vale lembrar que a mina esta em plena atividade e os mineiros que trabalhama lá nao gostam de ser "atracao turistica". Aquilo é o trabalho e a vida deles. Alias, vida que nao ultrapassa os 45 anos.

Bueno. Compramos refrigerante, folhas de coca e bananas de dinamite. Fomos ao Cerro Rico. De todas as aventuras e passeios que fiz ate agora, todos, absolutamente todos eu faria de novo, mesmo o passeio de bike em que me quebrei. Agora, voltar ao Cerro Rico nunca mais.


Essa é a entrada da mina. Dá pra se ter uma base de como é lá dentro
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A mina nao foi construida. É apenas um buraco feito a mao. Em alguns momentos tem que se abaixar com o peito no chao para passar, por distancias de ate 20m. Voce se transforma num legitimo tatu. A unica iluminacao é a do seu capacete. Para pessoas claustrofobicas, nem chegue perto. O meu problema foi respirar. Voce esta a 4060m, nao ha circulacao de ar, e o que tem é extramente poluido com pó e particulas de minerais. A minha vontade quando entrei, foi a de sair dali o mais rapido possivel. Incrivel como pessoas podem trabalhar naquele ambiente. Na entrada da mina ha um pequeno museu, com a figura de El Tio.


Baks pede a protecao do El Tio
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Os primeiros mineiros foram os indigenas. Catequizados pelos padres catolicos espanhois, que diziam que deus esta no ceu e o diabo embaixo da terra, logo pensavam que as entranhas do Cerro Rico era o proprio inferno (nao deixa de ser mesmo) e comandado pelo diabo. Para trabalhar la, necessitariam da permissao do senhor das trevas. Criaram entao a figura do El Tio, o ser dono das profundezas e faziam oferendas pedindo permissao para trabalhar la e rogando para que nada de ruim acontecesse durante o trabalho. A tradicao persiste ate hoje. El Tio nao houviu muitas das preces.


Virei tatu. Olha os buracos que tinhamos que entrar


Mineiros trabalhando no subsolo. Peguei uma pa tambem e fui ajudar


Entrei aí para descer ate o quarto pavimento. O brabo foi subir depois

Na rua, ja na luz do sol, resolvemos explodir umas dinamites so pra ver o estouro.


Baks la fora. Ligaram-se que todas as fotos estou com o polegar pra cima. Essa nao. Depois disso fomos explodir dinamites. Unabomber-baks.

Fui para o hotel tomar banho, voce fica completamente sujo e à tarde, fui visitar a incrivel Casa de La Moneda, uma enorme construcao no centro da cidade cuja funcao principal foi cunhar moedas de prata para toda a Europa. Hoje um museu, a Casa da Moeda conta com 200 salas. Visitamos toda o procedimento para beneficiar a prata e sua cunhagem, ora em moedas, ora em lingotes que eram enviados à Espanha. Por ironia do destino, as moedas bolivianas hoje sao produzidas na Espanha...


A entrada do impressionante Museo Casa de La Moneda

Depois fui visitar o Museu e Convento de Santa Tereza, uma grande construcao destinada a enclausurar meninas para passar a vida toda adorando deus e rezando. Era uma honra para as ricas familias tradicionais dos séculos XVI e XVII terem uma familia no convento. O dote para entrar, em valores de hoje, chegava a 100 mil dolares. Depois que a menina passava a porta de entrada, nunca mais poderia voltar, e nem ter contato nenhum com o meio externo. Quando se produzia algo para vender ou se necessitava de alguma coisa, as trocas eram feitas por rodas, onde nao se podia ver ninguem. Como o convento era extramamente rico, a quantidade de obras como esculturas e pinturas, todas com temas religiosos, é claro, é imensa. Cousas da nefasta igreja catolica.

No domingo e segunda fui visitar outras igrejas e monumentos e apreciar a gastronomia boliviana. Comi as famosas saltenas, uma especie de pastel de forno, recheado com carne ou pollo e bastante temperado. Alias tempero aqui nao é brincadeira. Num restaurante tinha tambem comida mexicana. Tá louco. Se as bolivianas sao assim, imagine as mexicanas-bolivianas. Comi tambem a trucha, um peixe que da aqui no Lago Poopó.


A fachada de uma das várias iglesias de Potosi. Todas de mil quinhentos e poucos

Na segunda, fui para Uyuni, onde estou agora. Daqui a pouco, vou fazer um passeio de 4 dias pelo Salar de Uyuni, ate chegar no Chile, em San Pedro de Atacama.

Bueno. Adios Bolivia, hola Chile.

Volto com certeza para ca. Nao deu pra ver nem 30 % das cousas. O lugar é fascinante, e o que é bom, extremamente barato.

Nos vemos em San Pedro, no deserto de Atacama, onde nao chove desde 1952.

Da série filmes que voce nao pode deixar de baixar para o seu PC

O Fabuloso Destino de Amélie Poulain. (Le Fabuleux Destin d’Amélie Poulain, França, 2001), de Jean-Pierre Jeunet. Amélie é uma jovem que se muda para Paris. No novo apartamento, descobre uma caixa com objetos antigos e decide devolver ao seu dono. Ao ver a felicidade estampada no rosto dele, Amélie, a partir de pequenos gestos, passa a ajudar as pessoas que a rodeiam. Um filme com roteiro e direção fantásticos, além da fotografia surpreendente, explorando cores chamativas, dando um ar de desenho animado. Muito divertido, a parte em que Amélie tenta demonstrar seu amor para seu pretendente é hilariante. Vale a pena entrar no mundo fantástico e doce de Amélie, assisti-lo vai deixar você mais leve. Não é só o destino de Amélie Poulain que é fabuloso. O filme também.

Confira aqui: http://www.youtube.com/watch?v=d58JNRfUazQ

2 comentários:

Capadócio disse...

Ainda vou querer saber a fonte!

Marcelo Trein disse...

Oh feons

O q tu queria ontem? Falox